terça-feira, dezembro 27, 2005

Pensamentos soltos

A chuva miudinha
a bater levemente na janela
são como segredos de amor
sussurrados ao ouvido

A noite serena
silencia as palavras
que nas asas do sonho se perdem no infinito


segunda-feira, novembro 21, 2005

Divagações de inverno


Um esgar de olhos
num dia de chuva e vento
traz-me à lembrança
os dias em que o sol do fim de tarde
me embala numa contemplação
os sonhos tornam-me
paraíso dos teus dias de treva
o luar numa noite de inverno
a onda que se desfaz na mansidão oceânica
o ser do teu não ser
o porto de abrigo do teu mar revolto
o sol que esbrasseia o teu corpo em dias de temporal
a lágrima dos teus olhos
a pétala da tua flor silvestre
a seiva que serve de alimento ao coração
a noite que te acolhe em sonhos idílicos
a sossego do teu desassossego
a gota que brota do rio
eternidade que se alonga além daquele momento
em que o teu olhar se cruzou com o meu



Imagem detirada daqui ("Fantasia aquática", Luiz Luxvich)

sexta-feira, outubro 21, 2005

Para o que me deu hoje

À Falta de alguma imaginação para dar asas ao pensamento e deixá-lo voar livremente, vou falar de política. Tinha prometido a mim mesma não o fazer neste blog, também por questões profissionais, mas por vezes a tentação.... Pronto não resisti. A política passa-me todos os dias pelas mãos e não é que hoje se escorregou até à ponta dos dedos que, por sua, vez, tocaram no teclado? pois é!
Não escondo que gosto de política. Pelas funções que desempenho profissionalmente, gosto de uma boa análise política, lbem neutral, imparcial, longe que estou de partidos, cargos políticos, tachos e afins.
Graças a um fabuloso jantar (profissional) de amigos (olhem que no Bombarral come-se muito bem), perdi o tão esperado anúncio presidencial. Estava expectante com o avanço ou um retrocesso de mais uma candidatura e que candidatura! É claro que o retrocesso seria uma ínfima hipótese. Cavaco Silva tem o dom de aparecer e surpreender, quando todos menos esperam pela sua reacção. E que pedrada no charco no PSD! Ora bem, temos candidatura independente e uma suspensão da filiação de Cavaco Silva no PSD! Da sua inteligência já eu tinha conhecimento, mas não me passou pela cabeça que Cavaco seguisse o propósito de Manuel Alegre, à esquerda. Aqui estão bons exemplos de revitalização da cidadania política! Infelizmente, a política sai muito desgastada pelos partidos. Desta forma, apesar das sondagens já darem a maioria das intenções de voto ao ex primeiro-ministro, Cavaco Silva só reforçará a sua imagem pela positiva junto dos eleitores. A meu ver, teremos futuro presidente da república INDEPENDENTE, seja ele da esquerda ou da direita. o Dr Mário Soares poderá arredar-se definitivamente da vida política com uma estonteante derrota. Poderei estar engadana, mas falaremos daqui a uns meses..... A minha curiosidade agora é se o PSD vai apoiar Cavaco Silva (o que seria uma jogada de mestre) ou, por teimosia, vai avançar com outra candidatura.

quarta-feira, outubro 19, 2005

...

Os nossos silêncios levam-nos por vezes a introspecções sobre nós próprios e quem nos rodeia. Por isso mesmo a imaginação não sai liberta, desenfreada. Por vezes precisamos de falar para nós próprios, interrogarmo-nos sobre a nossa vida e os que estão a ela ligada. Também a vida é repartida por fases, por compartimentos, que se vão fechando e abrindo, à medida das nossas necessidades, vontades, desejos, paixões e momentos.
Quem me conhece mais de perto sabe que eu funciono muito de acordo com o tempo. Estou portanto na fase mais outonal da vida, tempo de renovação, de deitar fora as folhas que parecem desusadas, inúteis ou que, parecendo novas, por vezes sucumbem à passagem do tempo, quando se mostram desprotegias, desamparadas.
Prometo voltar depressa e dar ao blog o melhor que sei e que este espaço merece, dentro do âmbito em que ele foi criado.

terça-feira, agosto 23, 2005

Na demanda da felicidade

Deixa-me perfurar essa tua rocha de silêncio
fazer de cada pensamento
sonhos de fantasia tornados realidade
de cada palavra
declarações de amor ao luar das noites quentes
de cada gesto
notas soltas do hino à felicidade

tornar as incertezas em certezas
como barcos de papel transformados em barcos à vela
ao sabor de um vento ameno, mas outrora revolto

domingo, julho 24, 2005

Se eu não te amasse tanto

Desconhecia esta música da Ivete sangalo, a sempre Ivete que consegue contagiar qualquer um com o seu ritmo e a energia contagiante em palco. A letra é algo de fenomenal, ainda para mais ouvida pela voz fantástica da Ivete, como ontem ouvi.
O segredo da poesia está precisamente naquela forma especial de chegar ao outro e, através música, de conseguir penetrar no ouvido de uma forma tão subtil. Ditas no momento certo, que mágicas se tornam, ó se se tornam.

Meu coração, sem direcção
Voando só por voar
Sem saber aonde chegar
Sonhando em te encontrar

E as estrelas
Que hoje eu descobri no seu olhar
As estrelas vão me guiar

Se eu não te amasse tanto assim
Talvez perdesse os sonhos
Dentro de mim
E vivesse na escuridão
Se eu não te amasse tanto assim
Talvez não visse flores por onde eu vim
Dentro do meu coração

Hoje eu sei, eu te amei
No vento de um temporal
Mas fui mais, muito além
Do tempo do vendaval
Nos desejos, num beijo
Que eu jamais provei igual
E as estrelas dão um sinal
(Herbert Viana e Sérgio Valle)

http://www.ivetesangalo.com.br/base.html

(tenho uma foto com a Ivete yeeeeeeeeeeeeeeees)

quarta-feira, junho 29, 2005

Estrelas (de papel)


Escrevo palavras ao vento
as letras tornam-se palavras aladas
os céus rasgam-se em nuvens de mil cores
o universo cintila de estrelas

....
As incandescências tornam-se cadentes
e transformam-se dia após dia
em barcos de papel a vaguear ao vento
sob a égide de umas amarras
no meu porto de abrigo

quarta-feira, junho 15, 2005

Deleite


(Sónia de Jesus, 2005, in Olhares)

Saboreio um alperce
Maduro, doce, suculento
Num encontro
entre lábios
Sensíveis, doces
Em gestos brandos
de puro calor
Quando o sol abrasa
E nos deixa cobiçosos
De uma rosa nutrida de água gotejante

terça-feira, junho 14, 2005

Perdeu-se o Homem, mas não a Obra



Eugénio de Andrade, nascido a 19/01/1923 no Fundão, faleceu ontem no Porto. Depois de Sophia de Mello Breuyner em 2004, Portugal perde mais um grande expoente da dua literatura. No entanto, a obra mantém-se eterna.

Surdo, Subterrâneo Rio Surdo,
subterrâneo rio de palavras
me corre lento pelo corpo todo;
amor sem margens onde a lua rompe
e nimba de luar o próprio lodo.

Correr do tempo ou só rumor do frio
onde o amor se perde e a razão de amar
--- surdo, subterrâneo, impiedoso rio,
para onde vais, sem eu poder ficar?


Eugénio de Andrade

De salientar, na sua carreira artística, o Prémio Camões atribuído em 2001. Todavia, faltou-lhe o Nobel da Literatura, que, para ele, "não tem importância nenhuma", confessou numa entrevista ao Diário de Notícias em 2001.
Nessa altura, confessava que "os prémios vêm sempre tarde". E No caso dele, nem tarde.... Questionado frontalmente sobre o Nobel da Literatura, respondia: "O Nobel é impensável! Os franceses, os ingleses, os alemães podem aspirar a isso. Em Portugal, aconteceu uma vez; não voltará a suceder tão cedo. Não há nenhum membro da Academia Sueca que leia português. Eu também não escrevo - nenhum escritor escreve - para ganhar prémios. O Nobel é um prémio como outro qualquer, só dá mais dinheiro, mas não tem importância nenhuma." Num esforço mais de análise sobre os estes prémios já atribuídos, dava o caso de Winston Churchil, considerando que "até dá vontade de rir quando pensamos em alguns nomes que tiveram o Nobel...". O próprio José Saramago, Nobel da Literatura em 98, considerava que Eugénio de Andrade era quem devia ter ganho este galardão, defendendo que a "poesia é a mais alta expressão do génio português."

sexta-feira, junho 10, 2005

???????



O som ondulante do mar
traz-me
o eco distante da tua voz
enquanto as nuvens no ar
desenham
a tua imagem
num processo que ludibria
a visão de um areal numa tarde de veraneio

Das minhas interrogações
faço ouvinte cada grão de areia
que se espalha por entre os dedos
num movimento de todo contrário
à ânsia do tempo

sexta-feira, junho 03, 2005

Areia Branca



Areia Branca, nome que me fascinou logo de imediato pelas minhas raízes geográficas,
é um livro de poesia, publicado pela Minerva, de autoria de Margarida Pelágio, que neste momento é minha conterrânea e que amavelmente me ofereceu hoje um exemplar,
que já li de fio a pavio.

Além da dedicatória a mim dirigida, o livro vinha acompanhado por um separador, onde está inscrito um dos seus poemas. Pela dificuldade em escolher apenas um deles para aqui colocar (tarefa ingrata, dada a sua qualidade), dei preferência a este.

Não consigo

Não consigo
Sonhar com o tempo
Quando ele avança
No deserto, sem luz!

Nem tão pouco
Viver os escombros
Duma vida inútil
Com sonhos de louco
E olhos sem ver!

Não consigo
Ser mais do que sou....
- Um sorriso que morre
No tempo que voa.

E este meu ser
Assim como sou
É o que ainda há
- O que em mim ficou!...

Mas se um dia alguém
Em mim acordar
O que agora dorme,
Será a sonhar
Que então vivirei!...

Porque acordada.....
- Jamais poderei!.....

segunda-feira, maio 30, 2005

Pensamentos

Como tenho sempre à mão papel e caneta decidi partilhar com quem me ler algumas reflexões para tornar a folha branca de papel num folha reflexiva, útil. É que, apesar das novas tecnologias, poucos são os meus escritos que não passam pelo crivo do papel. Apenas os textos de imprensa são imediatamente escritos no computador, mas pouco ou nada têm de mim. Apenas e quase uma assinatura que vincula o meu nome a um artigo, que pode deixar transparecer algumas características da minha escrita, sendo ela mesmo assim objectiva.
Assisti, hoje, a um seminário sobre o tema “A escola, factor de desenvolvimento da comunidade” e fez-me lembrar os tempos ainda pouco longínquos das conferências que ia assistir, em que obviamente mais do que à procura de notícia, procurava prestar atenção à forma eloquente dos oradores, aos saberes que cada um transportava para o seu público e à paixão com que cada um falava. À palestra a que assisti hoje, embora os dotes de oratória do investigador, docente universitário, me tenham suscitado pouco interesse, o orador consegui pôr-me a pensar sobre a tarefa desafiaste e ao mesmo tempo ingrata de um professor: mais do que ensinar, é preciso levar o aluno a saber aprender e incutir nele o gosto pelo conhecimento, num tempo em que a escola parece estar cada vez mais fora de moda, o que também dá que pensar. Pena é que a maioria dos professores não reflictam sobre estes aspectos, limitando-se a debitar matéria, o que se compreende numa sociedade tecnologicamente mecanizada.
Ora, a carreira de docente implica ter em mente a priori um certo ideal de filosofia romântica, ou seja, um certo ideal de formar homens e mulheres heróis do seu próprio tempo, verdadeiros cidadãos esclarecidos.
O problema reside aí: sente-se acomodamento, sente-se o renunciar de responsabilidades de um verdadeiro pedagogo, sente-se o desnorte a que o estado social assiste sem nada fazer.
Sempre me empenhei, enquanto estive “por dentro” e na “fronteira” da carreira de docente com estes dilemas. Serei eu capaz de ser mentora de pessoas, no sentido de orientá-las no sentido de suscitar nelas o gosto pelo saber em demasia? Depressa me apercebi dos malefícios por que a classe está corroída, pela descrença com que se olha para um professor. Não me demiti do contributo social de educar, porque este não é exclusivo da classe docente. Apenas reorientei o meu caminho.
A propósito, quero deixar um forte agradecimento a uma parte dos meus professores do Ensino Secundário e às “mentes sábias” que encontrei na Universidade. Se a uns devo o gosto por conhecer todas as formas de arte, a outros devo a vontade e a curiosidade de descobrir.

* e porque os últimos são normalmente os primeiros, quero aqui dar os meus sinceros Parabéns à minha amiga Sara, com quem percorri os corredores da Faculdade de Letras, em muitos dos quais ganhávamos tempo a partilhar saberes e a construir conhecimentos e que hoje recebeu um Muito Bom na defesa da sua Tese de Mestrado. Amiga vai em frente!

terça-feira, maio 10, 2005

Paradoxos


(João Belo, "Natureza calma", in www.olhares.com)

Não resisti a transcrever o Pedro Abrunhosa. Paradoxalmente, tanto há a dizer entre os nossos silêncios

"O silêncio é a mais perfeita forma de música. Nele eu me escondo, me encanto e pernoito as palavras que te irão encontrar. O silêncio é a minha obsessão, a minha forma de te escutar. Eu sei que estás aí, que me ouves e me percebes. Sei que sentes os meus silêncios. Eles são os teus também".

quarta-feira, maio 04, 2005

Mar


(Rodrigo Silva, in Olhares)

Deixa-me entrelaçar nas tuas águas
E esperar ser abraçada pelas tuas ondas

Leva-me a caminhar na praia sentindo o teu aroma
Enquanto os teus braços se entendem para os meus
Receosos, tímidos, mas vorazes

Sob o olhar cúmplice da areia
Contemplo o azul do céu num entardecer púrpura
e volto a encontrar-te na linha do horizonte
onde o pensamento se guarnece de saudade

domingo, abril 24, 2005

Entre escrever e não escrever



O meu pensamento transforma-se a cada instante
em palavras
Mas entre o escrever e o não escrever
a inspiração reveste-se de incerteza
e a intenção de escrever torna-se desejo vão

domingo, abril 10, 2005

Silêncios


(Vasco Rosa, "Fim de uma jornada")

No silêncio da noite
o meu pensamento voa como uma gaivota
e se esbate contra o teu silêncio
que me trespassa como uma lança
e me deixa à deriva na solidão

terça-feira, abril 05, 2005


(Júlio Viena, "Um dia...seremos tu e eu")

Escrevo estas frases
Enquanto o coração pulula mais forte...
A caneta foge-se-me na mão
Deixando incontrolável o acto da escrita

As letras saltitam eufóricas sob a mão que escreve
quando o sol brilha
enquanto assisto ao chilreal de um passarinho
que teima em poisar no meu beiral
e me sussura ao ouvido

......... 2004

sábado, abril 02, 2005

Saudade


(F. Castelo, "O Regresso")

Sôfrego sentir da sensação
Doce fruir do desejo
Palpitações de memórias feitas
Poder que se aflora à superfície
e me tolda os sentidos num vaivém de emoções

quarta-feira, março 30, 2005

A minha "pocanina"


A Diana tem 1 ano e meio e é um amorzinho brincalhão, daqueles que chegam a ser melgas peganhentas que nunca nos largam e que são verdadeiras sombrinhas. Se soubesse que ainda não tinha falado dela, já me tinha rosnado....
Sabem quando chegamos a casa cansados e aproveitamos uns 15 minutos todos os dias para pegar na nininha, na trela, vestir uma roupa prática e caminhar a pé, deixando para trás de nós os problemas e descontraindo a mente com aquele aroma de fim de tarde a bater na cara, pensando naqueles bons momentos que marcaram o dia ou a semana? Que prazer que é.
A minha “Pocanina”, como lhe chamamos cá em casa a par de mais meia dúzia de nomes carinhosos, foi uma paixão minha à primeira vista. Veio para casa numa altura em que sabia que mais dia, menos dia, ia ficar sem o Fred. E aconteceu passados 4 meses. Nesse dia, 31 de Janeiro, chorei todo o santo dia, mas tive o consolo desta menina que me ia lambendo as lágrimas.

segunda-feira, março 28, 2005

Encontros

Naqueles devaneios de alma... há alguns tempos atrás


(Rogério Lemos, "Lá fora") (autor desconhecido)

Uma troca de palavras
Quando os olhos se cruzam
Na finitude do tempo...

Lá fora uma tempestade...
Cá dentro um sol que brilha radiante
Como os teus olhos

As palavras meigas
O desejo de dois corpos juntos
Um entrelaçar de mãos
Segredar ao ouvido Amor
Um leve beijo inocente
Uma cumplicidade
O vislumbre do mar num entardecer pintado de raios solares
Uma flor silvestre colhida ali ao lado

domingo, março 27, 2005

As Palavras

apetece-me citar Eugénio de Andrade

(Júlio Viena, "Dark garden")

São como um cristal,
as palavras
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.

Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.

Desamparadas, inocentes,
leves
tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.

Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?

Coração do dia, 1958

sábado, março 26, 2005

Aos meus pais

Foi com todo o carinho e emoção que talvez tenha feito a melhor dedicatória escrita aos meus pais, com toda a simplicidade embutida nas suas palavras. Aquela fita branca que vêem na fotografia foi lida muito emocionadamente a eles, corria o dia 18 de Maio de 2002. Um lindo dia de sol, por sinal. Toda a alegria transportada para mim naquele dia foi qualquer coisa de mágico.
22 anos já se passaram. Parece que ainda foi ontem que ia almoçar a casa, depois de chegar da Escola Primária e lá estava a minha mãe preocupada com a chuva, sempre indo ao meu encontro. Antes mesmo, lembro-me de andar a brincar no jardim e mal via alguma vizinha escondia-me, de tão tímida que era.
Fui crescendo, sem que eles dessem por isso. Ainda me lembro do dia em que me apareceu a menstruação e todas as explicações da minha mãe. Ainda me lembro dos Domingos de manhã quando o meu pai me levava à praia e das partidas a jogar raquetes.
Quando comecei a sair à noite, lá ficava a mãe galinha preocupada com a filha, a ponto de ligar o despertador para estar acordada quando chegasse. Já em pequena, muitas noites em vão passava ao meu lado quando estava doente.
No momento decisivo de continuar os meus estudos, o pai e a mãe sempre me deram o seu apoio, empenhando-se a ponto de fazer todos os esforços para agora chegar ao fim desta etapa importante na minha vida.
A calma do meu pai herdei-a, mas também a tagarelice da minha mãe. Deles herdei a determinação para avançar mais longe e esta tem norteado todo o meu percurso de vida.

Aos meus queridos pais pelas noites que passaram sem dormir, pelas vontades que sempre satisfizeram e por tudo o que sou hoje.

Começou a Primavera


Da minha janela vejo-te, ó flor
És a mais bela flor de árvore de fruto
Cresceste ao ritmo natural das coisas
Não te plantei, nem reguei.
Já olhava o teu tronco antes de cresceres
Sonhava que pudesses vingar mesmo apesar das contrariedades do tempo.
Vejo-se agora esbelta
Esperançosa na tua capacidade de gerar o fruto
Esperança por vezes vã….
Aos poucos as tuas pétalas vão caindo por força das águas
Sei que não podes ficar sempre a enfeitar a minha janela com os teus tons rosa e branco
Terás de dar fruto, aquele que desejo saborear
Ou talvez não dês…
Tu, minha flor de Primavera,
Talvez não tenhas forças para resistir às adversidades
Valerá a pena alimentar-te?
Antes fosses uma flor do campo para cresceres selvaticamente
E exalares a minha janela com o teu perfume!
Antes fosses uma flor do meu jardim
Para eu poder cuidar, te dar água a todas as horas!
De nada vale, não…
Tu és uma de muitas da árvore a sucumbir ou a sobreviver, quem sabe, à vontade da natureza.
Tens o teu tempo,
Aquele de apenas florir e embelezar a paisagem….
Acordo! E o que vejo?
Uma árvore com mais troncos do que flores….
Onde estás, onde?
Serás apenas uma flor sem frutos?
De nada valem as palavras, ó tempo poderoso!

Uma escapadela

´

A aurora florescia adivinhando um ilusório dia de sol.
Chegámos ao nosso destino imaginando umas belas férias em clima paradisíaco. A temperatura estava amena, mas no ar pairava o cheiro a terra molhada. Um vaivém de nuvens pairava no céu. Será chuva, será vento….. que interessa: será gente.
Frustração talvez! O mais importante, todavia, era o convívio reinante.
Um gigantesco raio de sol satisfez as negras esperanças. Partimos com a dor da despedida de umas férias, afinal, bem merecidas e vividas, no meio de tanto trabalho na Lisboa universitária.
Para trás fica um mar de recordações tão claras como a água do Oceano. Juntamo-las àquelas que a memória não esquece.

Albufeira, 1 Maio 2000

sexta-feira, março 25, 2005

Um instante



Para começar, escolhi umas breves palavras que guardo num pedaço de papel desde 2000, embora este pequeno pedaço já tenha sido algumas vezes rassurado, pela necessidade de alterar o texto original. Apelam à memória do meu avô Jacinto. Não são mais do que a observação transcrita para o papel da observação da natureza. Pretendi dar um sentido musicado ao fluir da escrita e à melodia das palavras. O sentir o palpitar de algo que está a nascer é sempre uma experiência fascinante. Nada mais a propósito.

Passado um dia de chuva, quando a noite está prestes a nascer, espreita por entre as nuvens um tímido pôr-do-sol.
É o momento propício para o canto das cigarras que, por entre as molhadas folhas das plantas, espreitam a fim de aproveitar desejosamente o efémero instante solar.
É o nascer de um novo mundo que morria até então no meio das incontroladas águas que caem sobre a folhagem. Os pássaros chilreiam alegremente; inesperadamente andorinhas percorrem os céus de tons escuros; nos montes longínquos flores coloridas perfumam a paisagem.
A noite aproxima-se e com ela um amontoar de ruídos que perfura o silêncio das noites. A agitação de uma noite de luar adivinha, assim, a aurora de um belo dia de sol e de uma nova era.
Termina mais uma das muitas histórias que o meu avô contava nas tardes em que o pôr-do-sol traz à planície o canto das cigarras e o cheiro a terra molhada.

20 Abril 2000

quinta-feira, março 24, 2005

Para quando nos dá aquela vontade avassaladora de escrever



Portanto, aqui vou eu pintar as minhas metáforas com letras de todos os feitios e cores, conforme os meus estados de espírito. Que me desculpem os grandes poetas se o verso é imperfeito ou se a composição é de pouca monta, mas por vezes a sensibilidade extravasa os limites do acto da escrita e quando nos damos conta já a imaginaçao vem como um cavalo galopante.
É para quando surge aquela vontade de escrever que este Blogue vai servir. Aqui ficará registado um pouco de mim!
Bem-vindos amigos!