segunda-feira, maio 30, 2005

Pensamentos

Como tenho sempre à mão papel e caneta decidi partilhar com quem me ler algumas reflexões para tornar a folha branca de papel num folha reflexiva, útil. É que, apesar das novas tecnologias, poucos são os meus escritos que não passam pelo crivo do papel. Apenas os textos de imprensa são imediatamente escritos no computador, mas pouco ou nada têm de mim. Apenas e quase uma assinatura que vincula o meu nome a um artigo, que pode deixar transparecer algumas características da minha escrita, sendo ela mesmo assim objectiva.
Assisti, hoje, a um seminário sobre o tema “A escola, factor de desenvolvimento da comunidade” e fez-me lembrar os tempos ainda pouco longínquos das conferências que ia assistir, em que obviamente mais do que à procura de notícia, procurava prestar atenção à forma eloquente dos oradores, aos saberes que cada um transportava para o seu público e à paixão com que cada um falava. À palestra a que assisti hoje, embora os dotes de oratória do investigador, docente universitário, me tenham suscitado pouco interesse, o orador consegui pôr-me a pensar sobre a tarefa desafiaste e ao mesmo tempo ingrata de um professor: mais do que ensinar, é preciso levar o aluno a saber aprender e incutir nele o gosto pelo conhecimento, num tempo em que a escola parece estar cada vez mais fora de moda, o que também dá que pensar. Pena é que a maioria dos professores não reflictam sobre estes aspectos, limitando-se a debitar matéria, o que se compreende numa sociedade tecnologicamente mecanizada.
Ora, a carreira de docente implica ter em mente a priori um certo ideal de filosofia romântica, ou seja, um certo ideal de formar homens e mulheres heróis do seu próprio tempo, verdadeiros cidadãos esclarecidos.
O problema reside aí: sente-se acomodamento, sente-se o renunciar de responsabilidades de um verdadeiro pedagogo, sente-se o desnorte a que o estado social assiste sem nada fazer.
Sempre me empenhei, enquanto estive “por dentro” e na “fronteira” da carreira de docente com estes dilemas. Serei eu capaz de ser mentora de pessoas, no sentido de orientá-las no sentido de suscitar nelas o gosto pelo saber em demasia? Depressa me apercebi dos malefícios por que a classe está corroída, pela descrença com que se olha para um professor. Não me demiti do contributo social de educar, porque este não é exclusivo da classe docente. Apenas reorientei o meu caminho.
A propósito, quero deixar um forte agradecimento a uma parte dos meus professores do Ensino Secundário e às “mentes sábias” que encontrei na Universidade. Se a uns devo o gosto por conhecer todas as formas de arte, a outros devo a vontade e a curiosidade de descobrir.

* e porque os últimos são normalmente os primeiros, quero aqui dar os meus sinceros Parabéns à minha amiga Sara, com quem percorri os corredores da Faculdade de Letras, em muitos dos quais ganhávamos tempo a partilhar saberes e a construir conhecimentos e que hoje recebeu um Muito Bom na defesa da sua Tese de Mestrado. Amiga vai em frente!

terça-feira, maio 10, 2005

Paradoxos


(João Belo, "Natureza calma", in www.olhares.com)

Não resisti a transcrever o Pedro Abrunhosa. Paradoxalmente, tanto há a dizer entre os nossos silêncios

"O silêncio é a mais perfeita forma de música. Nele eu me escondo, me encanto e pernoito as palavras que te irão encontrar. O silêncio é a minha obsessão, a minha forma de te escutar. Eu sei que estás aí, que me ouves e me percebes. Sei que sentes os meus silêncios. Eles são os teus também".

quarta-feira, maio 04, 2005

Mar


(Rodrigo Silva, in Olhares)

Deixa-me entrelaçar nas tuas águas
E esperar ser abraçada pelas tuas ondas

Leva-me a caminhar na praia sentindo o teu aroma
Enquanto os teus braços se entendem para os meus
Receosos, tímidos, mas vorazes

Sob o olhar cúmplice da areia
Contemplo o azul do céu num entardecer púrpura
e volto a encontrar-te na linha do horizonte
onde o pensamento se guarnece de saudade