sexta-feira, março 25, 2005

Um instante



Para começar, escolhi umas breves palavras que guardo num pedaço de papel desde 2000, embora este pequeno pedaço já tenha sido algumas vezes rassurado, pela necessidade de alterar o texto original. Apelam à memória do meu avô Jacinto. Não são mais do que a observação transcrita para o papel da observação da natureza. Pretendi dar um sentido musicado ao fluir da escrita e à melodia das palavras. O sentir o palpitar de algo que está a nascer é sempre uma experiência fascinante. Nada mais a propósito.

Passado um dia de chuva, quando a noite está prestes a nascer, espreita por entre as nuvens um tímido pôr-do-sol.
É o momento propício para o canto das cigarras que, por entre as molhadas folhas das plantas, espreitam a fim de aproveitar desejosamente o efémero instante solar.
É o nascer de um novo mundo que morria até então no meio das incontroladas águas que caem sobre a folhagem. Os pássaros chilreiam alegremente; inesperadamente andorinhas percorrem os céus de tons escuros; nos montes longínquos flores coloridas perfumam a paisagem.
A noite aproxima-se e com ela um amontoar de ruídos que perfura o silêncio das noites. A agitação de uma noite de luar adivinha, assim, a aurora de um belo dia de sol e de uma nova era.
Termina mais uma das muitas histórias que o meu avô contava nas tardes em que o pôr-do-sol traz à planície o canto das cigarras e o cheiro a terra molhada.

20 Abril 2000

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