Para começar, escolhi umas breves palavras que guardo num pedaço de papel desde 2000, embora este pequeno pedaço já tenha sido algumas vezes rassurado, pela necessidade de alterar o texto original. Apelam à memória do meu avô Jacinto. Não são mais do que a observação transcrita para o papel da observação da natureza. Pretendi dar um sentido musicado ao fluir da escrita e à melodia das palavras. O sentir o palpitar de algo que está a nascer é sempre uma experiência fascinante. Nada mais a propósito.
Passado um dia de chuva, quando a noite está prestes a nascer, espreita por entre as nuvens um tímido pôr-do-sol.
É o momento propício para o canto das cigarras que, por entre as molhadas folhas das plantas, espreitam a fim de aproveitar desejosamente o efémero instante solar.
É o nascer de um novo mundo que morria até então no meio das incontroladas águas que caem sobre a folhagem. Os pássaros chilreiam alegremente; inesperadamente andorinhas percorrem os céus de tons escuros; nos montes longínquos flores coloridas perfumam a paisagem.
A noite aproxima-se e com ela um amontoar de ruídos que perfura o silêncio das noites. A agitação de uma noite de luar adivinha, assim, a aurora de um belo dia de sol e de uma nova era.
Termina mais uma das muitas histórias que o meu avô contava nas tardes em que o pôr-do-sol traz à planície o canto das cigarras e o cheiro a terra molhada.
20 Abril 2000
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