domingo, março 22, 2009

Recordar bons momentos

Como hoje estou meia melancólica, apetece-me ouvir esta música que me traz bons momentos por um conjunto de razões. Não só porque me deixa bem disposta, porque me faz lembrar do Verão e de alguém que me fez gostar desta música :)


quinta-feira, março 05, 2009

Reflexão

Reporto aqui um artigo de opinião publicado hoje na edição impressa do Público que vai ao encontro das muitas reflexões que já tenho feito e que, provavelmente, quem se interessa por este sector também já o fez.

É difícil para os jornais venderem uma coisa que não sabem o que é

05.03.2009, José Vítor Malheiros

O problema que todos os jornais do mundo enfrentam hoje é um problema de sobrevivência. Ninguém tem a certeza de estar ainda no mercado daqui a dez anos. Nem os pequenos jornais, nem os grandes colossos de referência.Porque é que isto é assim se todos estes jornais hoje em dia possuem sites na Internet? Não estão os sites a absorver os leitores que o papel perde? Estão. O problema é que não existe um modelo de negócio viável para os sites de informação. Os sites pagos não parecem ser uma solução, pois não geram suficiente receita e reduzem de tal forma a audiência que os sites se arriscam a tornar-se irrelevantes, quase secretos. E as receitas de publicidade, apesar de crescerem a taxas elevadas (20 por cento), não são suficientes para cobrir os custos editoriais de um grande jornal. E é aqui que bate o ponto.Num seminário realizado em Nova Iorque em Novembro de 2008, um grupo de investigadores tentou definir a dimensão máxima de uma redacção online se os jornais em papel desaparecessem. Concluíram que as receitas poderiam pagar 30 jornalistas. Cerca de 10 por cento da redacção de um jornal em papel actual para um mercado da mesma dimensão.Este é o desafio que os jornais em papel têm de enfrentar. Até agora, a venda de "produtos associados" (livros, DVD, etc.) e os cortes de pessoal têm permitido ganhar tempo e incutir falsas esperanças nos accionistas, mas os buracos financeiros vão-se alargando.A crise de vendas - e de audiências e publicidade - é aliás alimentada pelos cortes de pessoal e de custos, que reduzem a qualidade dos jornais e alienam cada vez mais leitores.Apesar de um discurso que valoriza "a marca", os jornais têm reduzido muito daquilo que poderiam ser factores de distinção pela qualidade. Os jornalistas são pressionados a produzir mais em menos tempo e as redacções, por falta de recursos, abandonam os grandes trabalhos de investigação que poderiam justificar a sua existência. Perante estas máquinas cada vez menos diferenciadas de (re)produzir notícias, os leitores fogem para a Internet, onde conseguem encontrar mais, melhor e mais barato. Será de estranhar?Um jornal nacional com uma redacção de 30 jornalistas não pode cobrir com qualidade todas as áreas. O bom jornalismo exige tempo, dinheiro, pessoas qualificadas. Muitas. Será que vai desaparecer? A resposta típica dos gurus é que "o jornalismo, tal como o conhecemos, vai desaparecer", mas isso não nos elucida. O que importa é saber se o jornalismo que vamos ter pode continuar a garantir a informação, a transparência, a fiscalização dos poderes, a expressão das diferentes opiniões e o debate que são o cimento das democracias. E isso está, claramente, em risco.O que acontecerá quando todos os leitores (ou quase) se tiverem transferido para a Internet?Nem todas as perspectivas são más. Por um lado, é evidente que a publicidade online mal começou a ser explorada e é possível que o seu crescimento se mantenha.Por outro lado, com os fracassos dos downsizings e dos "produtos associados", começa hoje a desenhar-se um consenso segundo o qual (tal como ontem) um jornal deve ter uma visão clara da sua missão e deve assumir um compromisso com os seus leitores e não se deve desviar dessa missão e desse compromisso sempre que vê uma moeda a brilhar no chão.Se algo pode salvar os jornais é a certeza, por parte dos seus leitores, de que eles lhe fornecem algo importante. A qualidade, afinal. O bom jornalismo. Que estes jornais do futuro vão existir online (acessíveis através de telemóveis, ecrãs portáteis), em vez de impressos em papel, é hoje uma evidência. E há cada vez mais especialistas a pensar que estes sites profissionais, que deverão partilhar as atenções com milhões de outros sites de aficionados, se dedicarão a mercados de nicho, atraentes para certos anunciantes, cuja publicidade pagará o seu jornalismo de qualidade.É verdade que parece haver muitos jornais que querem aproveitar a oportunidade da Web para fazer esta reorientação. Mas essa sensação é, às vezes, falsa. Há muitas "estratégias online" onde apenas se definem as ferramentas a usar, os novos brinquedos (blogs, twitter, vídeo, multimédia) sem que a missão do jornal esteja definida, sem que a nova relação que se pretende estabelecer com os leitores tenha sido profundamente discutida e sem que se saiba o que cada um deve fazer e para quê. Será espantoso que o modelo de negócio não exista quando não se sabe com quem queremos falar nem o que lhes queremos dizer?Continuará a haver necessidade de (e mercado para) jornalistas e jornais. Mas só para os melhores.