terça-feira, junho 14, 2005

Perdeu-se o Homem, mas não a Obra



Eugénio de Andrade, nascido a 19/01/1923 no Fundão, faleceu ontem no Porto. Depois de Sophia de Mello Breuyner em 2004, Portugal perde mais um grande expoente da dua literatura. No entanto, a obra mantém-se eterna.

Surdo, Subterrâneo Rio Surdo,
subterrâneo rio de palavras
me corre lento pelo corpo todo;
amor sem margens onde a lua rompe
e nimba de luar o próprio lodo.

Correr do tempo ou só rumor do frio
onde o amor se perde e a razão de amar
--- surdo, subterrâneo, impiedoso rio,
para onde vais, sem eu poder ficar?


Eugénio de Andrade

De salientar, na sua carreira artística, o Prémio Camões atribuído em 2001. Todavia, faltou-lhe o Nobel da Literatura, que, para ele, "não tem importância nenhuma", confessou numa entrevista ao Diário de Notícias em 2001.
Nessa altura, confessava que "os prémios vêm sempre tarde". E No caso dele, nem tarde.... Questionado frontalmente sobre o Nobel da Literatura, respondia: "O Nobel é impensável! Os franceses, os ingleses, os alemães podem aspirar a isso. Em Portugal, aconteceu uma vez; não voltará a suceder tão cedo. Não há nenhum membro da Academia Sueca que leia português. Eu também não escrevo - nenhum escritor escreve - para ganhar prémios. O Nobel é um prémio como outro qualquer, só dá mais dinheiro, mas não tem importância nenhuma." Num esforço mais de análise sobre os estes prémios já atribuídos, dava o caso de Winston Churchil, considerando que "até dá vontade de rir quando pensamos em alguns nomes que tiveram o Nobel...". O próprio José Saramago, Nobel da Literatura em 98, considerava que Eugénio de Andrade era quem devia ter ganho este galardão, defendendo que a "poesia é a mais alta expressão do génio português."

2 comentários:

Anónimo disse...

Eu adoro o legado que este grande homem nos deixou... Com ou sem Nobel, o valor dele é inestimável.

Arte em Movimento disse...

Olá Miga

Com as obras dos grandes homens se constrói a nossa História.

Eugénio de Andrade foi mais um grande poeta que partiu, mas ficou para sempre na nossa memória o seu trabalho e a sua obra.

"AS PALAVRAS QUE TE ENVIO SÃO ENTERDITAS

As palavras que te envio são interditas
até, meu amor, pelo halo das searas;
se alguma regressasse, nem já reconhecia
o teu nome nas suas curvas claras.

Dói-me esta água, este ar que se respira,
dói-me esta solidão de pedra escura,
estas mãos nocturnas onde aperto
os meus dias quebrados na cintura.

E a noite cresce apaixonadamente.
Nas suas margens nuas, desoladas,
cada homem tem apenas para dar
um horizonte de cidades bombardeadas."

(Eugénio de Andrade)