domingo, março 27, 2005

As Palavras

apetece-me citar Eugénio de Andrade

(Júlio Viena, "Dark garden")

São como um cristal,
as palavras
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.

Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.

Desamparadas, inocentes,
leves
tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.

Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?

Coração do dia, 1958

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