Eugénio de Andrade, nascido a 19/01/1923 no Fundão, faleceu ontem no Porto. Depois de Sophia de Mello Breuyner em 2004, Portugal perde mais um grande expoente da dua literatura. No entanto, a obra mantém-se eterna.
Surdo, Subterrâneo Rio Surdo,
subterrâneo rio de palavras
me corre lento pelo corpo todo;
amor sem margens onde a lua rompe
e nimba de luar o próprio lodo.
Correr do tempo ou só rumor do frio
onde o amor se perde e a razão de amar
--- surdo, subterrâneo, impiedoso rio,
para onde vais, sem eu poder ficar? Eugénio de AndradeDe salientar, na sua carreira artística, o
Prémio Camões atribuído em 2001. Todavia, faltou-lhe o
Nobel da Literatura, que, para ele, "não tem importância nenhuma", confessou numa entrevista ao Diário de Notícias em 2001.
Nessa altura, confessava que "os prémios vêm sempre tarde". E No caso dele, nem tarde.... Questionado frontalmente sobre o
Nobel da Literatura, respondia: "O Nobel é impensável! Os franceses, os ingleses, os alemães podem aspirar a isso. Em Portugal, aconteceu uma vez; não voltará a suceder tão cedo. Não há nenhum membro da Academia Sueca que leia português. Eu também não escrevo - nenhum escritor escreve - para ganhar prémios. O Nobel é um prémio como outro qualquer, só dá mais dinheiro, mas não tem importância nenhuma." Num esforço mais de análise sobre os estes prémios já atribuídos, dava o caso de Winston Churchil, considerando que "até dá vontade de rir quando pensamos em alguns nomes que tiveram o Nobel...". O próprio José Saramago,
Nobel da Literatura em 98, considerava que Eugénio de Andrade era quem devia ter ganho este galardão, defendendo que a "poesia é a mais alta expressão do génio português."
2 comentários:
Eu adoro o legado que este grande homem nos deixou... Com ou sem Nobel, o valor dele é inestimável.
Olá Miga
Com as obras dos grandes homens se constrói a nossa História.
Eugénio de Andrade foi mais um grande poeta que partiu, mas ficou para sempre na nossa memória o seu trabalho e a sua obra.
"AS PALAVRAS QUE TE ENVIO SÃO ENTERDITAS
As palavras que te envio são interditas
até, meu amor, pelo halo das searas;
se alguma regressasse, nem já reconhecia
o teu nome nas suas curvas claras.
Dói-me esta água, este ar que se respira,
dói-me esta solidão de pedra escura,
estas mãos nocturnas onde aperto
os meus dias quebrados na cintura.
E a noite cresce apaixonadamente.
Nas suas margens nuas, desoladas,
cada homem tem apenas para dar
um horizonte de cidades bombardeadas."
(Eugénio de Andrade)
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