quarta-feira, junho 29, 2005

Estrelas (de papel)


Escrevo palavras ao vento
as letras tornam-se palavras aladas
os céus rasgam-se em nuvens de mil cores
o universo cintila de estrelas

....
As incandescências tornam-se cadentes
e transformam-se dia após dia
em barcos de papel a vaguear ao vento
sob a égide de umas amarras
no meu porto de abrigo

quarta-feira, junho 15, 2005

Deleite


(Sónia de Jesus, 2005, in Olhares)

Saboreio um alperce
Maduro, doce, suculento
Num encontro
entre lábios
Sensíveis, doces
Em gestos brandos
de puro calor
Quando o sol abrasa
E nos deixa cobiçosos
De uma rosa nutrida de água gotejante

terça-feira, junho 14, 2005

Perdeu-se o Homem, mas não a Obra



Eugénio de Andrade, nascido a 19/01/1923 no Fundão, faleceu ontem no Porto. Depois de Sophia de Mello Breuyner em 2004, Portugal perde mais um grande expoente da dua literatura. No entanto, a obra mantém-se eterna.

Surdo, Subterrâneo Rio Surdo,
subterrâneo rio de palavras
me corre lento pelo corpo todo;
amor sem margens onde a lua rompe
e nimba de luar o próprio lodo.

Correr do tempo ou só rumor do frio
onde o amor se perde e a razão de amar
--- surdo, subterrâneo, impiedoso rio,
para onde vais, sem eu poder ficar?


Eugénio de Andrade

De salientar, na sua carreira artística, o Prémio Camões atribuído em 2001. Todavia, faltou-lhe o Nobel da Literatura, que, para ele, "não tem importância nenhuma", confessou numa entrevista ao Diário de Notícias em 2001.
Nessa altura, confessava que "os prémios vêm sempre tarde". E No caso dele, nem tarde.... Questionado frontalmente sobre o Nobel da Literatura, respondia: "O Nobel é impensável! Os franceses, os ingleses, os alemães podem aspirar a isso. Em Portugal, aconteceu uma vez; não voltará a suceder tão cedo. Não há nenhum membro da Academia Sueca que leia português. Eu também não escrevo - nenhum escritor escreve - para ganhar prémios. O Nobel é um prémio como outro qualquer, só dá mais dinheiro, mas não tem importância nenhuma." Num esforço mais de análise sobre os estes prémios já atribuídos, dava o caso de Winston Churchil, considerando que "até dá vontade de rir quando pensamos em alguns nomes que tiveram o Nobel...". O próprio José Saramago, Nobel da Literatura em 98, considerava que Eugénio de Andrade era quem devia ter ganho este galardão, defendendo que a "poesia é a mais alta expressão do génio português."

sexta-feira, junho 10, 2005

???????



O som ondulante do mar
traz-me
o eco distante da tua voz
enquanto as nuvens no ar
desenham
a tua imagem
num processo que ludibria
a visão de um areal numa tarde de veraneio

Das minhas interrogações
faço ouvinte cada grão de areia
que se espalha por entre os dedos
num movimento de todo contrário
à ânsia do tempo

sexta-feira, junho 03, 2005

Areia Branca



Areia Branca, nome que me fascinou logo de imediato pelas minhas raízes geográficas,
é um livro de poesia, publicado pela Minerva, de autoria de Margarida Pelágio, que neste momento é minha conterrânea e que amavelmente me ofereceu hoje um exemplar,
que já li de fio a pavio.

Além da dedicatória a mim dirigida, o livro vinha acompanhado por um separador, onde está inscrito um dos seus poemas. Pela dificuldade em escolher apenas um deles para aqui colocar (tarefa ingrata, dada a sua qualidade), dei preferência a este.

Não consigo

Não consigo
Sonhar com o tempo
Quando ele avança
No deserto, sem luz!

Nem tão pouco
Viver os escombros
Duma vida inútil
Com sonhos de louco
E olhos sem ver!

Não consigo
Ser mais do que sou....
- Um sorriso que morre
No tempo que voa.

E este meu ser
Assim como sou
É o que ainda há
- O que em mim ficou!...

Mas se um dia alguém
Em mim acordar
O que agora dorme,
Será a sonhar
Que então vivirei!...

Porque acordada.....
- Jamais poderei!.....